Até mais de meio, estava confusa com a leitura deste livro. Sinceramente, não estava a compreender onde o autor queria chegar (se bem que não há obrigatoriedade de se chegar a lugar algum com a leitura de um livro). Que mensagem estava a passar o autor? Que valores estavam a ser transmitidos às crianças de 11 anos, nitidamente o público-alvo deste livro? Tudo indicava que estavam a ser muito focados aspetos moralmente duvidosos...
Bem, passemos então à explicação: nesta história, temos um menino que vive com os pais sendo que nos salta à vista uma certa negligência. Os pais de Ben mal passam tempo com ele, pouco o ouvem e não consideram o que de facto gosta de fazer. Trata-se de progenitores com interesse altamente direcionado para uma grande paixão — ver concursos de danças na TV, género: "dança com as estrelas". São pessoas simples, com empregos que exigem tarefas básicas. A mãe é manicure e o pai, segurança num supermercado. São os próprios a transmitirem aquela imagem de que estão fartos das suas vidas monótonas.
Ao longo do livro surgem partes muito divertidas em que, por exemplo, saltam as unhas postiças à mãe. Esta quando vai no carro a maquiar-se, esborrata-se toda e chega aos locais sempre com um risco a mais...de certo que qualquer pequeno ao ler estas aventuras, vai desatar a rir-se às gargalhadas (e os adultos também).
Ben, o menino da história, adora tudo o que se relaciona com canalizações (muito original), tudo o que inclua tubos e arranjos com canos, isso é que o encanta, esse é o sonho da sua vida...ser canalizador. Os pais desdenham dessa hipótese e querem desviá-lo dessa ideia, mas Ben está longe de querer o que os pais queriam que ele fosse: dançarino como a estrela de dança que veneram com todo o seu coração —o grande dançarino, Flavio Flavioli.
Os dias passam-se, o anterior igual ao que vem a seguir, sempre com refeições prontas aquecidas no micro-ondas, pouca conversa, muito espetáculo televisivo de dança e, sextas-feiras em casa da avó. É neste dia da semana que os pais de Ben vão jantar fora e se deslocam a uma sala de cinema para verem um filme no grande ecrã. "Despejam" Ben à porta da casa da avó e arrancam para o seu programa de sexta-feira à noite.
Para Ben é um martírio. A avó cozinha couve a toda a hora, até bolo de couve come! Tem pelos no queixo e dá puns por toda a casa, usa aparelho auditivo e uma dentadura postiça. Tudo bem, ou tudo mal (dependendo da perspetiva) só que num belo dia, Ben encontra umas jóias e pedras preciosas numa lata de bolachas que a avó tinha lá por casa. Não descansa enquanto não descobre o que é aquilo. Onde as foi buscar? Quem lhas terá dado? Ela mal sai de casa quanto mais ter aquilo ali! O mistério torna-se imperioso de descobrir. Ben, super curioso pega na bicicleta e vai ter a casa da avó sem que os pais saibam.
A história desenrola-se e vem-se a saber que a avó é uma ladra, uma verdadeira gângster. Ora, aqui é que comecei a não gostar, pois aqueles valores não interessam, de todo, passar às crianças: a excitação de roubar coisas de valor, as histórias da avó quando era mais pequena e usurpou, pela primeira vez, e tal e tal (uiii o que é isto, perguntava eu), já não estava a gostar nada daquilo. De veloz leitura este livro, chega-se a determinada parte e vira tudo ao contrário. Respirei de alívio e achei muito interessante como o autor escreveu o livro e compõe tudo até chegar aquele ponto.
Não deixa de ser um livro onde ficamos a refletir sobre pré-conceitos, o rapazinho que tinha uma ideia da avó (chata, aborrecida, que só sabia jogar scrabble, que ele nem gostava, etc), passa a ter a ideia de uma super avó, a qual Ben passa a adorar e que nada tem de chata ou de aborrecida.
E às tantas, damos conta que este livro valoriza o papel dos mais velhos e a importância de passarem tempo de qualidade juntos. Transmite a ideia de que os avós já foram jovens e têm montanhas de histórias engraçadas para contar.
Gostei bastante, claro, uma delícia que qualquer criança de 10 a 12 anos também vai adorar.
As ilustrações são bem engraçadas e dão mais piada ao livro, acompanham muito bem o que está escrito. A linguagem é muito acessível.
palavras do livro que despertaram, em mim, outras palavras:
- Divertimento.
- Preconceitos.
- Tristeza.
- Surpresa.
- Valorizar os mais velhos.
- Família.
- Ternura.
🌠Ler para:- Dar valor ao tempo passado em família.
- Olhar os mais velhos como fonte de histórias super interessantes.
- Ter consciência de que há preconceitos que limitam de ter preconceitos.
- Crianças dos 8 aos 12 ou 13 anos (e para todos os outros também).
-Dar umas boas gargalhadas com todas as aventuras da história.
Título: A avozinha Gângster
256 páginas.
Autor: David Walliams
Editora: Porto Editora
(1ª imagem): Imagem de fundo da Torre de Londres, atrás da capa do livro: