Este é um livro com apenas 67 páginas, que se lê em pouco tempo, mas com uma história cuja densidade é superior ao número de páginas.
O narrador desta história é alguém que viaja no mesmo navio da personagem principal desta narrativa. Os factos que aconteceram, são a propósito de um médico, suponho que exercendo a sua profissão em Calcutá, numa colónia de cujo país não percebi bem, distante da Europa, no longínquo ano de 1912.
O narrador conta-nos que o seu aposento no navio era bafiento, encolhido e barulhento. Para se refugiar deste sítio pouco agradável e do ruído constante das conversas ininterruptas, no convés, durante o dia por todo o lado do navio, o nosso narrador decidiu trocar os turnos: dormir de dia e manter-se no convés, arejado e solitário, durante a noite. E é precisamente aqui, num dos dias em que opta por arejar a cabeça durante a noite, que encontra uma singular pessoa que mal consegue distinguir na escuridão da noite.
Ao longo de dois ou três dias, aquele estranho, sempre acompanhado de uma garrafa de álcool (Whiskey penso eu) vai contando a sua triste história que começa algures nos trópicos. Uma mulher, altiva e arrogante ousa ir a sua casa pedir-lhe um favor. Nunca se verga, nunca ousa pedir "por favor" como pretendia o médico, nunca se coloca numa posição de alguma forma "inferior" ao seu interlocutor e este, irritado com esta atitude e tão orgulhoso e arrogante quanta a mulher que pede (nunca implorando nem se rebaixando), exige um pagamento que a mulher recusa veemente.
A mulher sai de casa do médico e este arrepende-se de não ter acedido ao pedido dela, entra em estado de alerta/agonia/fúria (amok)...persegue-a até conseguir comunicar com ela, no entanto, já é tarde e o pedido dela fica sem efeito. As consequências destas escolhas (dela e dele) não são boas nem para um, nem para o outro.
A intensidade destas linhas é enorme, a aflição que é transmitida, é feito que mestria a que Stefan Zweig tinha na escrita. Um pequeno livro muito denso! Muito bem escrito!
Stefan Zweig escreveu várias novelas, uma delas já li e também gostei: "24 horas na vida de uma mulher". Muitos estão publicados pela editora "Relógio D´Água" e são muito acessíveis naquelas caixinhas disponibilizadas na feira do livro de Lisboa (foi lá que comprei alguns destes livros). Valem bem a pena!
palavras do livro que despertaram, em mim, outras palavras:
- Angústia.
- Dor.
- Viagem em navio.
- Condição humana.
- Orgulho.
- Amok.
- Século XIX.
- Perceber as relações humanas no século XIX, particularmente em colónias.
- Aprender o conceito "amok".
- Ter contacto com a magnífica escrita de Stefan Zweig.
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