domingo, 11 de outubro de 2020

Ser Bom Não Chega de Dr. Atul Gawande

 



Este livro é mais didático e informativo do que propriamente um romance ou uma história bem contada. É sim, uma narrativa, mas esta bem real e que se relaciona com o sistema de saúde norte americano. Em muitos aspetos, não difere do que se vai passando em Portugal, embora eu considere que, ainda assim, estamos mais "protegidos" e somos melhor servidos pelo nosso SNS do que os norte americanos! Sim, por mais incrível que isto possa parecer!!

Atul Gawande aborda variadíssimas questões do sistema de saúde público dos EUA e se acham que vai ser "seca" enganam-se porque o autor escreve de forma muito simples e fluida, muito acessível ao comum dos mortais. Entenda-se por "comum dos mortais" os que não estão diretamente relacionados com a saúde e as suas engrenagens, o autor até extrapola para considerações que podem ser aplicáveis a todos os tipos de profissionais. Dei por mim a querer ler mais um bocadinho quando tinha que parar para ir fazer outras coisas (bom sinal, portanto!).

O livro está dividido em três partes, em que na parte I o autor toca em assuntos super pertinentes para a prática médica (como por exemplo, no difícil que é, o simples ato de lavar as mãos de forma frequente e automática seja interiorizado pelos médicos e restante pessoal de saúde). Fala-nos das formas efetivas de concretizar campanhas capazes de conduzirem à erradicação de doenças endémicas, em países como África ou Índia e por fim, nesta parte, Atul G. informa-nos acerca de como os médicos em cenário de guerra atuam de modo a evitar o maior número possível de baixas. Super interessante! 

Assim de repente, lembrei-me do filme "Patch Adams" em que o personagem principal (interpretado pelo já falecido Robin Williams), começa aos poucos a instalar novas formas de tratar os doentes, pelo simples facto de querer saber mais acerca deles para além do descrito no papel do diagnóstico...muito bom! Atul G. alerta também para este simples facto de que é falar mais com os pacientes e importar-se verdadeiramente pelas suas queixas, confiando um pouco também no próprio instinto...

Na parte II faz considerações sobre aquelas situações mais estranhas e menos desejadas na profissão médica. As questões do pudor quando os pacientes têm que se despir para que possa ser realizado um diagnóstico correto; o funcionamento dos seguros de saúde para os norte americanos, e quando não há possibilidade de aplicar ou englobar o doente num determinado seguro? Em que situações complicadas se vêem os médicos que têm que trabalhar na câmara da morte (em alguns estados norte americanos existe ainda a pena de morte), etc...

E a parte III remata com os fatores do desempenho e avaliação da prática médica, da exigência que se impõe a cada profissional de saúde e acabamos o livro a pensar que não deve ser nada, mas mesmo nada fácil! Sabemos que os médicos são seres humanos, mas parece ser-lhes exigida uma perfeição só vista nas divindades e, quando há erros, estes podem sair muito caros (em todos aspetos) para o médico em questão.

Um livro super interessante que gostei muito de ler, embora não tenha sido para mim super rápido de ler. recheado de vários exemplos de casos reais que puseram à prova estes fantásticos profissionais.

Fica aqui também o trailer do filme "Patch Adams" que adorei ver um dia destes (incrivelmente ainda não o tinha visto) e que se baseia numa história real.




239 páginas
Autor: Atul Gawande 
Editora: Lua de Papel

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