Este pequeno livro é pequeno apenas no número de páginas que tem. É riquíssimo quanto a vivências que mostram um pouco da vida deste autor Nobel da literatura (único português).
Saramago vai retratando aqui um pouco da sua vida, primeiro na Azinhaga do Ribatejo e depois em Lisboa, onde passa uns anos da sua vida e entra para a escola técnica e frequenta aulas para se formar em serralheiro mecânico. A parte das Canárias ainda não consta aqui, mas tudo o que escreve é como se estivéssemos a percorrer com ele, de mão dada, e ele a mostrar-nos como era ser aluno sentado das carteiras da escola, como era viver com a avó na aldeia, como era quando alguém errava nas palavras que escrevia nos textos da escola, como era sair de madrugada com o seu tio para vender o porco mais gordo na feira, como era o rio da sua terra — o Almonda e tantas, tantas outras magníficas vivências que só tem quem vive nestes locais onde a natureza se confundo com o Homem.
Azinhaga do Ribatejo é perto de uma belíssima área protegida —Paúl de Boquilobo, com uma vida selvagem enorme. Saramago estava rodeado de natureza, sem telemóveis nem computadores, como é natural que fosse, naquela época. As crianças e jovens entretinham-se brincando umas com as outras, aprendendo com os adultos ou explorando a natureza que os rodeava. Deixo aqui um pequeno pedaço dessas vivências:
"Então digo à minha avó: Avó, vou dar por aí uma volta. Ela diz: vai, vai, mas não me recomenda que tenha cuidado, nesse tempo os adultos tinham mais confiança nos pequenos que educavam. Meto um bocado de pão de milho e um punhado de azeitonas e figos secos no alforge, pego num pau para o caso de me ter que defender de um mau encontro canino, e saio para o campo. Não tenho muito por onde escolher: ou o rio, e a quase inexplicável vegetação que lhe cobre e protege as margens ou os olivais e os duros restolhos do trigo já ceifado, ou a densa mata de tramagueiras, faias, freixos e choupos que ladeia o Tejo para jusante...".
E sabem do que me lembrei? Do menino da "Maior Flor do Mundo", livro infantil de Saramago, em que um menino se aventura pelos campos e atravessa a sua aldeia para dar de beber a uma flor que está definhada. Aqueles percursos de Saramago, fizeram-me lembrar os percursos deste menino!
Este livro é agri-doce e intenso. Com uma linguagem fluida, mas sem deixar de ser prospera. Somos convidados a explorar termos que se usavam naquela época, enriquecemos também nós o vocabulário, olhamos através dos olhos de Saramago enquanto criança. Conhecemos costumes, alimentos, tradições daquela zona do Ribatejo.
- Ternura;
- Nostalgia;
- Vivências;
- Aldeia;
- Natureza;
- Criança;
- Humor e inteligência.
🌠Ler para:
- viajar com Saramago através da sua Azinhaga do Ribatejo;
- conhecer mais sobre as vivências da criança e jovem Saramago;
- adentrar pela linguagem rica em vocabulário;
- recordar palavras que se usavam em determinados locais e determinadas épocas;
-conhecer os "bastidores" do grande (e simples) Nobel da literatura portuguesa.
A minha edição é da antiga "Caminho", as páginas já se encontram soltas, mas este é dos poucos livros que apetece ler outra vez (revisitar muitas vezes).
Título: As pequenas memórias
136 páginas.
Autor: José Saramago
Editora: Porto Editora
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