As 3 vidas de João Tordo

Não conhecia o autor e este foi o primeiro livro que li dele. Fiquei agradavelmente impressionada."As 3 vidas" é um romance que acompanha o narrador, um rapaz ainda jovem, que após a morte do pai vê-se obrigado a trabalhar para sustentar a família que lhe resta - mãe e irmã. Começa a trabalhar num local chamado "Quinta do Tempo", localizada no meio do nada, algures num Alentejo profundo.

Durante algum tempo, nem o narrador sabe para onde foi trabalhar e muito menos qual a verdadeira natureza do trabalho do seu patrão - um senhor abastado e cheio de mistérios, de nome  António Augusto Millhouse Pascal. É bem mais à frente na narrativa que o seu patrão, quase moribundo, num hotel em Manhatan, começa a desvendar o seu passado cheio de "podres", segredos e horrores.

Pelo meio, o narrador apaixona-se pela neta de Millhouse Pascal, Camila, que tem mais dois irmãos - Gustavo e Nina. Camila é aficionada pelo  funâmbulismo e treina desde cedo esta arte, nos jardins da Quinta do Tempo, no entanto, o seu avô tem tudo destinado para a sua neta e longe dele permitir o encontro de Camila com a sua mãe que permanece nos Estados Unidos da América, numa vida algo louca e cheia de desequilíbrios...mas Camila, é a única dos 3 netos que permanece com um foco - encontrar a mãe e mostrar-lhe os seus sonhos acerca do funâmbulismo. Assim que se encontra nos Estados Unidos, em vez de frequentar a universidade financiada e prevista por Millhouse Pascal, desaparece, quase sem deixar rasto e deixando em aflição o seu avô que fica sem notícias suas.

O livro decorre sobretudo entre os anos 80 e 90, mas há algumas idas ao passado de Millhouse Pascal, nos tempos da guerra fria envolvendo espionagem e coisas que tais. 

Existem alguns mistérios que, ou não são totalmente esclarecidos, ou sendo esclarecidos, ficam aflorados por alto.
O personagem principal vai passando por várias fases da sua vida, a maior parte delas com pesadelos, muitas delas vivendo extremamente só e apenas no fim alcança uma certa estabilidade, "empurrando" para o fundo o seu passado e interessando-se mais pelo seu presente.

É uma escrita que flui muito bem, a de João Tordo, fácil de nos vermos em todas as situações que são narradas, passando por diversas emoções. Não sabemos bem, se havemos de ficar do lado de Millhouse Pascal que funciona quase como um guru, se havemos de ter pena dele. Se nas circunstâncias do narrador, faríamos exatamente a mesma coisa que o narrador fez, quando fez o que fez. Enfim, escolhas e decisões que eventualmente seriam as mesmas se por estes acontecimentos tivéssemos que passar...

Há frases e ensinamentos que são transmitidos ao longo do livro que são transmitidos assim de repente, no meio da narrativa e possuem uma enorme profundidade, dão que pensar, por exemplo:

" A presença física não é prova de nada. O lugar onde vivemos é o lugar que habitamos em espírito. E, em espírito, nunca regressei. Estou espalhado pelas almas de todas as pessoas que conheci, de todas as coisas que por lhes ter tocado modifiquei."

Comentário sobre o livro, feito pelo autor



Autor: João Tordo
Editora: Quidnovi
408 páginas