sábado, 6 de junho de 2020

A História de Uma Serva de Margaret Atwood.


Este foi o meu primeiro livro da autora. Com uma escrita brilhante,  saltamos de imediato para uma sociedade distopica, construída de forma soberba, que pretendendo ser perfeita, obviamente que não o é - a definição perfeita da imperfeição que caracteriza as distopias. 

Não foi há muito que percebi o que significava esta palavra - distopia - precisamente o contrário do que se entende por "utopia" ou a versão ideal de qualquer coisa, um sonho tornado realidade.

A história que nos é apresentada por Margaret Atwood, através dos olhos de uma "serva" é absolutamente horripilante. Sim, de um filme de terror! Muita angústia, marcada pela ausência de qualquer esperança (ou vá, muito pouca...que esperança existe enquanto há vida), em que o tempo se arrasta pois pouco é permitido fazer...

Nesta narrativa, é relatado o testemunho de uma mulher que de um instante para o outro vê-se num território, que era o seu, mas que de repente não reconhece como seu, tal é a mudança que se opera em menos de nada.

Defred é a mulher que nos relata o estado das coisas em Gileade, depois de um governo extremista ter chegado ao poder. As mulheres são então categorizadas (existem "Servas", "Martas", "Econoesposas", etc), sendo que as servas seriam as que tinham a capacidade para gerarem novos seres humanos, por terem já sido mães anteriormente e, portanto, por revelarem uma característica muito útil - a fertilidade. São assim usadas para engravidarem ao serviço dos "Comandantes" . Estes são os senhores que detêm o poder totalitário daquela região. Até o nome das servas simboliza esse poder sobre os bens ou pessoas que possui - De Fred - ou seja, pertencente ao Comandante de nome Fred (Defred). Quanto mais elevada a patente do Comandante, mais bens/pessoas tinham ao seu serviço, por exemplo, os de patente elevada teriam um maior número de "Martas" ao seu serviço, ou seja, uma espécie de criadas da casa, um "faz tudo", desde cozinhar a limpar a casa.

Em Gileade não é permitido ler (que horror, mais horroroso); não é permitido vestir de forma diferente daquela prevista dentro de cada categoria de mulher - as Martas vestiam de verde, as Esposas de azul, as servas de vermelho; não é permitido andar sozinha (claro em caso de se ser mulher); falar é coisa muito pouca e em sussurros...enfim, um sem número de proibições, severamente punidas.

Vamos acompanhando Defred no seu dia-a-dia de tédio, em que só tem direito ao que é básico e que deve ter em conta, essencialmente, as necessidades do seu dono - o Comandante. O Comandante, chefe de família de Defred (portanto o Comandante Fred) também tem uma vida pouco interessante, ao qual também são atribuídas tarefas muito específicas, dentro das quais não estão as lúdicas ou outras que não têm em conta os valores familiares e religiosos do governo de Gileade. Como é homem, tem uma maneira de pensar de supremacia perante as mulheres que, são de facto, consideradas como sendo seres inferiores, incapazes de terem um raciocínio tão bom e igual aos seres humanos masculinos.

A grande angústia da personagem principal deve-se sobretudo ao facto de que ela conheceu outro tipo de sociedade, à qual fazia parte como mulher casada, com um homem que amava e do qual tinha uma filha, ou seja, tinha uma família. Esta realidade é-lhe arrancada à força e vê-se de um momento para o outro, numa outra realidade em que o ser humano é categorizado e diferenciado, sobretudo pelo género a que pertence.

Embora seja uma leitura difícil (mas muito fluida!) porque nos confronta com uma realidade brutal, em que pouco resta de esperança, é escrita de uma forma magnífica, parece que nos fala diretamente e cria todo um mundo diferente do nosso e que um dia (oxalá que nunca, jamais e em tempo algum) poderia bem o ser.

Este livro tem continuação, ou antes, Gileade continua a ser palco da narrativa de Margaret Atwood, 15 anos depois da História de Uma Serva. "Os Testamentos" (livro que estou a devorar agora e que foi escrito 34 anos após o primeiro!), foi lançado em março deste ano (2020) e está a ser ainda melhor (na minha humilde opinião).

Dei-lhe 4 estrelas no Goodreads só porque este não é o género de narrativas que me envolvem assim emocionalmente e me elevam a alma e me fazem chorar ou rir...mas dado à escrita super fluida desta autora, enquanto leio "Os Testamentos" tenho praticamente a certeza de que serão as 5 estrelas bem gordinhas que lhe quero dar! 

348 páginas
Autora: Margaret Atwood
Editora: Bretrand Editora
****a minha classificação no GoodReads




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