Este é um pequeno livro com muito recheio!
Pereira é um jornalista que exerce a sua atividade nos anos em que também Salazar governava.
Aqui "afirma" é de dizer com certeza, não duvidava que era assim...e é muito engraçado como, ao longo de toda a história, o autor escreve na terceira pessoa, aplicando imensas vezes o verbo afirmar. Por exemplo:"Afirma que não o copiou todo, copiou só algumas linhas..."; " Pereira arrependeu-se, afirma...". Esta particularidade, dá um tom de graça ao texto, aliás, há aqui e além umas notas de humor que divertem o leitor.
Não direi muito, além do que está escrito nas badanas do livro, porque sendo um livro pequeno, se escrever muito sobre ele, acabo por denunciar a história toda e não quero fazê-lo! Mas, devo dizer que este jornalista da época da ditadura, anda no limiar de consciência, percebe-se que não quer ir contra o que está estipulado, o que é a política vigente. Deve obediência ao seu Diretor, mas ao mesmo tempo, tem uma enorme vontade de afirmar a sua voz !! E é esta "guerra" de consciência que diverte o leitor. E embora seja divertida a história é também dura, porque não se inibe de ir dizendo umas verdades e, a dada altura, torna-se mesmo cruel.
Pereira adora beber a sua limonada (com carradas de açúcar) e come a sua habitual omeleta, com salsa, no café Orquídea. É assim que ganha uma barriga jeitosa e se sente anafado. Fala com a sua esposa, só que esta é apenas um retrato em cima de um móvel de sua casa. Trabalha na seção cultural do "Lisboa" e, atreve-se a traduzir autores franceses, mais liberais, que vão contra os ideais conservadores do regime português nesta época. Atreve-se a ir contra a vontade do seu Diretor, que lhe pede mais autores portugueses. O seu chefe, pede-lhe que seja mais patriota, o que significa, para Pereira, muito "mais do mesmo"...ora Pereira acha isto aborrecido de morte. Por falar em morte, este tema atrai Pereira, e anda de volta dele até encontrar um jovem que contrata, como estagiário, para escrever necrológios (elogios fúnebres) de autores que ainda não morreram, mas que nunca se sabe se vão morrer de um dia para o outro e assim, o jornalista encontra-se precavido!Mas, as coisas não lhe correm como deseja e a história agudiza-se, o que seria de prever num regime com censura e opressor, como era o da época...
Vale muito a pena ler este livrinho e diria que já é um clássico.
Encontra-se também em formato de Graphic Novel e esta deve ser mesmo muito boa e que com toda a certeza, se devora de um trago :-).
A minha edição é ainda da coleção Mil Folhas do Público.
- Censura;
- Ditadura;
- Liberdade de expressão;
- Divertimento;
- Livros e autores;
- Artigos de opinião;
- Cultura;
- Dar voz à Voz.
🌠Ler:
- quando queremos perceber como funcionava a censura;
- livros curtos e com uma escrita relativamente simples;
- queremos aprender mais sobre autores franceses (clássicos);
- quando acreditamos na liberdade de expressão;
- quando queremos alguma coisa com uma pitada de humor (quase negro).
Título: Afirma Pereira
216 páginas.
Autor: Antonio Tabucchi
Editora: Dom Quixote
Fica também o livro em formato de Graphic Novel, para quem quer ler neste formato mais atrativo!
Esta obra foi também adaptada ao cinema italiano: Afirma Pereira filme.
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