sexta-feira, 31 de julho de 2020

Ainda Estou Viva de Han Eun-Mi









"Ainda Estou Viva" é um relato cruel, mas infelizmente verdadeiro de uma norte coreana que consegue fugir e ir viver para a Coreia do Sul. 

Para quem não tem "estômago forte" este livro não é de facto recomendado, mas para quem quer saber um pouco mais no que se passa naquela terra tão estranha deve mesmo ler, pois é quase surreal que exista ainda um território onde se passam tantas coisas desumanas! Sim, bem sei que não é o único local da Terra onde existem coisas que já não se deveriam passar, muito desgraçadamente para a evolução do ser humano! 

Han Eun-Mi nasceu numa família que não sendo rica, vivia de forma razoável (classe média baixa ou equivalente a isto). A mãe de Eun-Mi, depois de ter sido (em solteira) professora (com um salário razoável), passou a vender bolos de arroz no mercado (baixando consideravelmente o seu rendimento) e o pai, trabalhava numa fábrica. 
Quando o país entrou numa grande crise e as rações alimentares (?!), com as quais a maioria das famílias menos abastadas contava, terminaram, a família de Han Eun-Mi reduziu drasticamente as suas possibilidades de sobrevivência, é isso mesmo, sobrevivência, o sustento/alimentação do dia-a-dia, já não se tratava de "viver", mas de "sobreviver"! Entretanto o pai da autora, deixou também de fazer as mesmas horas na fábrica onde trabalhava por ter magoado, severamente uma das pernas num acidente de trabalho. 

A dada altura, esta família de 4 pessoas (porque a autora tinha também uma irmã mais nova), passa fome e faz de tudo só para arranjar as refeições diárias (inclusivé, chegam a comer restos de couve deixada pelos vizinhos!). 

É extremamente sofredor e angustiante este retrato que Han Eun-Mi nos deixa, mas ao mesmo tempo, passa a ideia de que há esperança ainda assim...pelo menos para ela existiu, caso contrário não teríamos acesso a nada do que escreveu (já se sabe, pois...).  A autora demonstra sempre uma grande determinação e força de vontade, muito embora sejam gigantes os obstáculos pelos quais passa, pois consegue fugir, primeiro para a China depois, finalmente, para a Coreia do Sul. 

Ao longo deste duro percurso, Han Eun - Mi passa por duríssimas condições de campos de trabalho forçado, só para ganhar o sustento e a sobrevivência, tem um filho de um homem que faz dela a sua escrava (na China) e consegue, de forma gloriosa, escapar-se para a Coreia do Sul onde passa a ter sonhos e uma vida dita "normal". E não se trata de ficção, mas sim da vida real, ao vivo e a cores, que incrivelmente é mais dura do que qualquer drama ficcional. 
Após tudo isto, considero-me uma sortuda, feliz da vida por ter nascido neste país, livre, onde há a possibilidade de se ganhar sustento de forma justa, onde temos qualidade de vida, pelo menos acesso a ela para a maioria de quem cá vive.

Pois, mas ainda não é assim para muitas regiões deste planeta Terra onde animais são mais humanos do que os próprios humanos...

O livro tem ilustrações bem bonitas que nos vão dando imagens visuais (tristes, muito tristes) de algumas cenas da vida de Han Eun-Mi. É um livro pequeno, mas sinceramente, difícil de se ler. 
Se vale a pena? Muito a pena! Ao menos abre-nos os olhos para algumas realidades!

Só consegui dar-lhe 4 estrelas no GoodReads pois às tantas tornou-se muito "mais do mesmo" angustiante e sofrido, mas se calhar, não poderia ser de outra forma, pois trata-se do que foi real para a autora. Desejo-lhe a concretização dos seus maiores sonhos em território livre e que permite aos seres humanos, serem humanos.

Assim que me for possível e tiver este livro (pelos vistos outro relato de uma fugitiva da Coreia do Norte) "Porque Escolhi Viver" de Yeonmi Park vou lê-lo também, pois parece ter recebido críticas muito positivas e é um acrescento acerca das condições de vida na Coreia do Norte.


173 páginas
Autor: Han Eun-Mi
Editora: ASA






domingo, 26 de julho de 2020

Em fuga de Peter May

Este é um bom thriller para quebrar aquela falta de vontade que nos dá de ler coisas chatas, monótonas, lentas e que não avançam. Aqui não há esse problema pois a história voa.

Embora o tivesse achado nada de especial, é muito rápida a sua leitura pois a narrativa é envolvente e sem darmos por isso avançamos bastante em pouco tempo.

Esta história gira à volta de 4 velhotes (Dave, Jack, Maurie e Luke) que decidem consertar algumas pontas soltas que deixaram, lá atrás, no seu passado. Explicando melhor, a iniciativa de regressarem a Londres vai ser de Maurie, um dos amigos que agora está às portas da morte com cancro, acamado num hospital. Depois de  de ter lido a notícia da morte de um sujeito do seu passado e de uma história em comum com os tais amigos, insiste com eles que tem que voltar e assim regressam todos.

Não nos surpreende em demasia pois não sendo demasiado óbvio, também não é extremamente difícil antecipar alguns acontecimentos deste policial. E o final, embora seja um pouco surpreendente, porque não estamos à espera (pelo menos completamente) do desfecho, também não é assim espetacular, mas é uma leitura que nos envolve e prende.

Saliento um aspeto que achei ternurento - a relação entre avó (Jack) e o neto (Ricky), pois ao transportar o neto para esta aventura Jack pensa também estar a devolver-lhe uma "vida a sério" que não passa por estar sentado à frente do PC horas a fio em jogos e outras coisas do género. Jack trata muitas vezes o neto por "filho" o que achei bem bonito, até porque nos é mostrada a fase da vida de Jack em que ele próprio era um jovem imaturo (o livro desenvolve-se em duas épocas - anos 60-70 e 2015). Ricky, que no início não tem o avô em boa consideração, muito por conta da influência dos próprios pais, já mais para o final do livro reconhece que o avô foi um aventureiro com uma vida digna de ser vivida! 

A perspetiva de Ricky quando diz que considerava que os velhos eram velhos e parecia que nunca tinham sido jovens, não deixa de ser pertinente, pois muitos jovens têm esta forma exata de pensar das pessoas mais velhas (e basta que estas pessoas tenham 40 anos ou mais...). Com as histórias do avô, contadas na primeira pessoa, Ricky passa a ter uma noção muito diferente da vida e dos "velhos".

Sei que este autor tem vários outros livros e que este nem é o que é dos melhores. E ao pesquisar mais sobre o autor, descobri que tinha escrito um livro, lançado em abril deste ano (que timing curioso, mesmo em cima da pandemia) com o nome "lockdown" que retrata Londres, como a cidade epicentro de uma virulenta e intensa pandemia em que os hospitais rebentam pelas costuras...bem, esperemos então pela sua tradução para português pois me parece que a leitura vai ser rápida! 

387 páginas
Autor: Peter May
Editora: Marcador


terça-feira, 14 de julho de 2020

Frankenstein de Mary Shelley

Quantos não terão ouvido falar desta surpreendente história? Frankenstein tem imensas adaptações, tanto para cinema, como para livros, mas nada como ler a história original de Mary Shelley, até porque ficariam surpreendidos com a oposição que tem às várias versões que existem. O próprio personagem monstruoso, construído por Victor Frankenstein, nada tem a ver com o monstro com parafusos e costuras estranhas na cabeça.
 
Mary Shelley tinha apenas 19 anos quando escreveu esta história! Impressionante como nesta idade apenas, surge uma narrativa que viria a ser um grande clássico. 

Alguém que ouvi no youtube sobre este livro, referiu-a como se fosse uma daquelas matrioskas que têm lá dentro várias bonecas de onde vão, sucessivamente, saindo mais bonecas...é mais ou menos isto que eu sinto desta história. 

O personagem que nos conduz pela história é Walton. Walton começa a relatar através de cartas escritas para a irmã, a viagem de sonho dele - explorar o pólo Norte, ora estamos no séc. XVIII e por isso este é um grande empreendimento, de enormes riscos. No meio desta grande aventura e já em mares muito a norte portanto gelados, Walton e sua tripulação encontram um desgraçado de um homem, em pele e osso, com um aspeto super desgastado e muito fragilisado. Este homem era Victor Frankenstein e aqui "sai" a segunda boneca tirada da tal matrioska...

Victor Frankenstein conta como criou o seu horripilante monstro, relata ponto por ponto como cresceu na sua querida Genebra, num seio familiar acolhedor e cheio de amor e como depois tudo mudou quando ingressou os seus estudos superiores, em que no meio das suas muitas leituras, loucura das loucuras, cismou que era possível dar vida a um ser humano que já estava inanimado, sem vida. Assim que descobre que as suas pesquisas e trabalho laborioso conseguem de facto concretizar o seu objetivo, nesse imediato momento, Frankenstein apercebe-se de que cometeu um erro e vira costas à sua criação, acreditando que quem não vê é como se não fosse real...foge e esquece que deu vida a um ser hediondo.

A terceira "boneca" sai da matrioska quando o próprio monstro relata como tem sido a sua história desde que o seu criador lhe insuflou vida. E aqui ficamos absolutamente surpresos porque o monstro, na verdade, é monstro porque aparece assim aos olhos de quem o vê! Este monstro tem sentimentos e apenas queria companhia e apreciar a vida tal como qualquer outro ser vivo à superfície da Terra...mas a sua aparência atroz não lhe permite ser aceite pela humanidade que o repudia e, para saberem mais, é só ler o livro que não é grande e está magistralmente bem escrito! 







Autor: Mary Shelley
Edição: Relógio D´Água 
219 páginas
literatura-billboard

Imagem do cabeçalho do blogue de "GimpWorkshop"

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Fantasia, Mágico, Surreal. De utilização gratuita.

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